quarta-feira

MENSAGEM DO GLÁUCIO

POSTADO EM 4.02.2009
A Xshuaia2009 foi a realização de um velho sonho que estive nutrindo por muitos anos... Nesse meio tempo muitos amigos e conhecidos manifestaram o desejo de se unirem nessa “lúcida loucura”. Mas, foi com a soma de meu companheiro do Águia Solitária, Flávio Faria, também motociclista experiente e aventureiro, que o sonho começou a tomar forma. Planejamos e sonhamos juntos durante um ano inteiro.

Logo de início definimos que nossas corajosas garupas, isto é, esposas, fariam parte da equipe. Feliz decisão, pois não sei o que faria sem o amor de minha vida e grande companheira Aline, que tanta força me deu, nos melhores e piores momentos, que sempre teve uma postura pró – ativa, ajudando nas decisões e resoluções dos problemas e, principalmente, na navegação, me auxiliando com os mapas e sinalizações de estrada. Isso sem contar a massagenzinha no fim das longas jornadas e o cafuné (que ninguém é de ferro!).
Depois o grupo foi crescendo em número e qualidade com a incorporação do amigo Zael e o novo companheiro Dino, juntos com suas respectivas esposas, perfazendo um grande grupo de pessoas realmente audaciosas!

Nossa expedição foi uma grande aventura em duas rodas, na qual o descanso, a comodidade e o direito sagrado de curtir a preguiça nas férias foram todos postos de lado em troca de uma imersão na cultura sul-americana, na geografia diversificada do nosso continente e, sobretudo, em uma verdadeira e autêntica “vivência estradeira”, que é a experiência de viver durante 30 dias praticamente como ciganos, perambulando entre províncias, estados e países com muitas diferenças, mas também com muitas afinidades.
Antes da viagem já vislumbrava o significado do “chegar ao fim do mundo”, que é um claro objetivo para aventureiros que viajam de moto, carro ou mochila. Contudo, conforme fomos avançando em nosso extenso roteiro, pude confirmar a importância dessa verdadeira “peregrinação motociclistica”, tanto para os pilotos brasileiros como para motociclistas de todo o globo. É fato que a viagem até Ushuaia, a cidade mais austral do planeta, já se transformou em aventura obrigatória para os espíritos inquietos e curiosos de todos os recantos da Terra. Principalmente a “tríade Ushuaia / Porto Natales / El Calafate”, se configurou em um roteiro padrão para viajantes de motocicletas, 4x4s, motorhomes, bicicletas, etc. São pessoas de todos os estilos que vão buscar nesses longínquos e pitorescos lugares um “algo mais” em suas bagagens de experiências.

Gostaria de encerrar meu relato final da viagem falando sobre esse “algo mais” que todos nós, de uma forma ou de outra, sempre estamos buscando. Poderia listar coisas que me impressionaram no caminho como: Os chapadões intermináveis da Patagônia, as manadas de guanacos soltos pela estrada, a preguiça invejável dos leões marinhos na Península Valdez, o pôr-do-sol às 23h na Tierra del Fuego com o céu escarlate, os encontros sempre calorosos com os outros viajantes, os folgados pingüins de Magalhães tomando banho de sol em Punta Tombo, as montanhas nevadas nas costas de Ushuaia, a majestade das Torres del Paine em Porto Natales, a magia do Vale Encantado com a vista surreal do Serro Campanário em Bariloche, a sensação de “longincuidade” na travessia do Estreito de Magalhães no Chile, a sensação de “pequeninês” junto às geleiras do Perito Moreno em El Calafate e tantas outras sensações que inspiram neologismos pela simples falta de referências e adjetivos fiéis à dimensão de nossas experiências. Nesse caso, o tal “algo mais” fica sendo a melhor expressão para meus sentimentos, que mesmo hoje, na segurança e conforto de nossa Capital Federal, me fazem arrepiar com suspiros de saudade dos lugares, pessoas e coisas que vão ficar lá a espera de um possível retorno, quem sabe... Ainda me emociono com as lembranças que, embora recentes, já se vão encobrindo pelo manto irrevogável do tempo. Escrevendo esse relato vem um engasgo de choro ao tomar ciência que tudo aquilo já passou... Mas, ao mesmo tempo, um calor no peito denuncia minha obstinação em continuar buscando aquele Algo Mais em minhas próximas aventuras, tentando encontrar o que não perdi, exercendo o meu direito de ser lucidamente louco, nesse mundinho sonolentamente racional. Mas que sejamos malucos-beleza como cantava Raul:

“ Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...”


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