quarta-feira

MENSAGEM DA ROSANE

POSTADO NO DIA 27.01.2009
Só agora, já de volta a Brasília me concedo um tempo, um justo tempo, para um pequeno depoimento sobre essa incrível viagem...foram dias repletos de momentos inesquecíveis feitos de imagens maravilhosas e sensações fortes...impossível compartilhá-las na medida exata de minha particular percepção...nas fotos, a tentativa de registrar o que nos surpreende não faz justiça ao que se vê...mesmo com o esforço do melhor ângulo e do melhor enquadramento o que conseguimos são só recortes...sendo assim, o que posso oferecer aos queridos amigos e “caroneiros” de nossa saga são os melhores e mais lindos desses recortes que consegui colecionar...a maioria deles produzidos quase em acrobacias do meu posto de garupa num verdadeiro surfe no asfalto, driblando o vento, as curvas, a velocidade...as emoções, essas são incompartilháveis...mas podem ser somadas àquelas sentidas por alguns de vocês que, mesmo longe do cenário, viajaram conosco...a oportunidade de ter vivido essa fantástica aventura agradeço ao meu companheiro Flávio...sua ousadia, sua determinação, sua dedicação nas incontáveis horas de trabalho em quase um ano de planejamento tornaram esse sonho realidade...obrigada, Fal, por ter me levado de carona no seu sonho e de garupa na sua moto...foi um presente incrível que guardarei para sempre na memória e no coração...agradeço aos amigos com quem compartilhamos a viagem, desde seu planejamento, por dias tão intensos e de grande solidariedade...momentos fáceis e alegres...outros um pouquinho mais difíceis...mas todos muito importantes...os primeiros, me divertiram muito e quero tê-los bem vivos na memória...os outros, me trouxeram novos aprendizados e, portanto, sou-lhes grata...um agradecimento especial a todos que mesmo de longe estiveram conosco, curtindo, torcendo e rezando para que tudo desse certo...tenho certeza que essa energia nos deu força, coragem, sorte e muita proteção...obrigada aos amigos e parentes por suas mensagens no blog e pelos e-mails...todos vocês que nos acompanharam foram grandes parceiros e sem sua companhia a viagem seria um pouco solitária...parabéns, Fal, pelo empreendimento e pela generosidade de tê-lo compartilhado com tantos pelo registro diário da viagem...abrindo mão, tantas vezes, do pouco tempo de descanso para que nenhum detalhe se perdesse ou faltasse aos nossos remotos acompanhantes virtuais... justiça seja feita...êta cabra macho...o bicho é “rústico” (não sente nem frio), incansável, obstinado...parabéns, grande piloto...na sua garupa fui até o fim do mundo...vivi o seu sonho...mas dormi e sonhei literalmente na sua garupa como só fazem os que confiam.
(fotos em Torres del Paine e no Perito Moreno)

MENSAGEM DO FLÁVIO FARIA

POSTADO EM 29.01.2009
Só quem esteve lá pode garantir como foi maravilhoso ter estado lá! Não quero falar muito porque creio ter compartilhado muito dos meus sentimentos em nosso diário de bordo. A vida segue mais bonita depois dessa experiência. Voltamos para casa mais próximos da humanidade; acreditando mais no Criador, na Sua bondade e sabedoria; valorizando ainda mais o companheirismo, as amizades, o aprendizado pela adversidade e acreditando mais em nós mesmos. Sentir a América como um lugar íntimo foi importante para mim, talvez em decorrência da minha paixão excessiva (desde a adolescência) pelos escritores sul-americanos. Essa viagem não começou agora, mas nos meus 16 anos, quando li o livro “Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Naquela época achava tudo muito distante. Viajava mentalmente por terras e civilizações que (pensava) jamais teria acesso. Hoje, sentimos tudo muito mais perto de nós. Nada é tão longe assim. O mundo é um local cada vez menor nessa era de modernidade. Nosso coração, contudo, certamente tornou-se maior, capaz de acolhê-lo por inteiro, depois dessa viagem tão marcante para nossa existência. Um grande abraço a todos que nos acompanharam
virtualmente por intermédio do nosso blog.
(foto nas Torres del Paine)

MENSAGEM DO ZAEL

POSTADO NO DIA 4.02.2009
Depois de alguns dias em casa, finalmente pude mensurar o quanto uma viagem dessas mexe com a cabeça da gente. Foram momentos únicos vividos com intensidade máxima, acho que a forma mais simples de explicar seria uma experiência física mesclada com uma experiência espiritual profunda em que todos os sentidos foram ativados ao limite. Visão, olfato, audição e paladar foram explorados. Não podemos esquecer o aspecto da convivência humana e do companheirismo que foi fundamental para o sucesso dessa expedição. Sinto-me mais humano e mais preparado para as adversidades da vida. Só tenho a agradecer a todos do grupo, especialmente ao Flávio Faria, idealizador, que me aceitou como participante sem exigir nada, a não ser a nossa amizade, além de grande escritor, relatando de forma impecável toda a jornada. Agradeço especialmente também ao meu grande amigo Gláucio que teve a sabedoria de ter guardado na manga sempre um largo sorriso, mesmo nos momentos mais difíceis que enfrentamos nessa jornada. Confesso que em algumas oportunidades, quando, por exemplo, perdi a chave do meu baú com toda a minha roupa de frio e mais a chave do tanque de gasolina na fronteira da Argentina com o Chile, fiquei com medo de que tudo acabasse ali e ele teve a compreensão necessária e uma palavra positiva para que eu não desistisse. Aprendi com ele também a ser mais paciente, a ser mais humilde. Obrigado a todos que de alguma forma me ajudaram a realizar esse sonho de menino, viajar ao fim do mundo de moto... Eu fui!
(foto em Punta Tombo)

MENSAGEM DO GLÁUCIO

POSTADO EM 4.02.2009
A Xshuaia2009 foi a realização de um velho sonho que estive nutrindo por muitos anos... Nesse meio tempo muitos amigos e conhecidos manifestaram o desejo de se unirem nessa “lúcida loucura”. Mas, foi com a soma de meu companheiro do Águia Solitária, Flávio Faria, também motociclista experiente e aventureiro, que o sonho começou a tomar forma. Planejamos e sonhamos juntos durante um ano inteiro.

Logo de início definimos que nossas corajosas garupas, isto é, esposas, fariam parte da equipe. Feliz decisão, pois não sei o que faria sem o amor de minha vida e grande companheira Aline, que tanta força me deu, nos melhores e piores momentos, que sempre teve uma postura pró – ativa, ajudando nas decisões e resoluções dos problemas e, principalmente, na navegação, me auxiliando com os mapas e sinalizações de estrada. Isso sem contar a massagenzinha no fim das longas jornadas e o cafuné (que ninguém é de ferro!).
Depois o grupo foi crescendo em número e qualidade com a incorporação do amigo Zael e o novo companheiro Dino, juntos com suas respectivas esposas, perfazendo um grande grupo de pessoas realmente audaciosas!

Nossa expedição foi uma grande aventura em duas rodas, na qual o descanso, a comodidade e o direito sagrado de curtir a preguiça nas férias foram todos postos de lado em troca de uma imersão na cultura sul-americana, na geografia diversificada do nosso continente e, sobretudo, em uma verdadeira e autêntica “vivência estradeira”, que é a experiência de viver durante 30 dias praticamente como ciganos, perambulando entre províncias, estados e países com muitas diferenças, mas também com muitas afinidades.
Antes da viagem já vislumbrava o significado do “chegar ao fim do mundo”, que é um claro objetivo para aventureiros que viajam de moto, carro ou mochila. Contudo, conforme fomos avançando em nosso extenso roteiro, pude confirmar a importância dessa verdadeira “peregrinação motociclistica”, tanto para os pilotos brasileiros como para motociclistas de todo o globo. É fato que a viagem até Ushuaia, a cidade mais austral do planeta, já se transformou em aventura obrigatória para os espíritos inquietos e curiosos de todos os recantos da Terra. Principalmente a “tríade Ushuaia / Porto Natales / El Calafate”, se configurou em um roteiro padrão para viajantes de motocicletas, 4x4s, motorhomes, bicicletas, etc. São pessoas de todos os estilos que vão buscar nesses longínquos e pitorescos lugares um “algo mais” em suas bagagens de experiências.

Gostaria de encerrar meu relato final da viagem falando sobre esse “algo mais” que todos nós, de uma forma ou de outra, sempre estamos buscando. Poderia listar coisas que me impressionaram no caminho como: Os chapadões intermináveis da Patagônia, as manadas de guanacos soltos pela estrada, a preguiça invejável dos leões marinhos na Península Valdez, o pôr-do-sol às 23h na Tierra del Fuego com o céu escarlate, os encontros sempre calorosos com os outros viajantes, os folgados pingüins de Magalhães tomando banho de sol em Punta Tombo, as montanhas nevadas nas costas de Ushuaia, a majestade das Torres del Paine em Porto Natales, a magia do Vale Encantado com a vista surreal do Serro Campanário em Bariloche, a sensação de “longincuidade” na travessia do Estreito de Magalhães no Chile, a sensação de “pequeninês” junto às geleiras do Perito Moreno em El Calafate e tantas outras sensações que inspiram neologismos pela simples falta de referências e adjetivos fiéis à dimensão de nossas experiências. Nesse caso, o tal “algo mais” fica sendo a melhor expressão para meus sentimentos, que mesmo hoje, na segurança e conforto de nossa Capital Federal, me fazem arrepiar com suspiros de saudade dos lugares, pessoas e coisas que vão ficar lá a espera de um possível retorno, quem sabe... Ainda me emociono com as lembranças que, embora recentes, já se vão encobrindo pelo manto irrevogável do tempo. Escrevendo esse relato vem um engasgo de choro ao tomar ciência que tudo aquilo já passou... Mas, ao mesmo tempo, um calor no peito denuncia minha obstinação em continuar buscando aquele Algo Mais em minhas próximas aventuras, tentando encontrar o que não perdi, exercendo o meu direito de ser lucidamente louco, nesse mundinho sonolentamente racional. Mas que sejamos malucos-beleza como cantava Raul:

“ Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...”


MENSAGEM DO DINO

POSTADA EM 10.03.2009

Outro dia desses, vi-me na necessidade de justificar para as minhas filhas por que eu viajava de moto e não na minha confortável camionete, que tanto prezo. Deixei bem claro para elas que não se viaja em duas rodas para provar nada para ninguém, mas como uma forma de entrar em sintonia com um mundo de meditação e transcedência, onde ouço o vento, o barulho do motor e a voz macia de minha querida namorada, a Neila.

A viagem a Ushuaia teve um significado particular para mim, porque pude conviver com a Neila por vinte dias e descobrir como temos identidade um com o outro. Além disso, passamos por um maravilhoso exercício de convivência com nossos casais amigos e aprendemos como é cada vez mais necessário compreender as diferentes perspectivas de cada um.

Flávio e Rosane, em especial, tornaram-se nossos companheiros ao longo da maior parte da viagem e não tenho dúvida de que as centenas de quilômetros enraizaram uma amizade duradoura. Nós eperamos fazer novos trechos com eles em breve, sobretudo com a aquisição da nova VL 1000. La Suzukona!

De Zael, Cássia, Glaucio e Aline ficaram as lições de convivência e respeito mútuo. A palavra do Zael foi fundamental para que eu não mudasse o pneu da TDM em razão do rípio e comprometesse a segurança da moto! Da Cássia tive a inveja saudável da persistência de ir a Ushuaia ao encontro do Zael. Sem o espírito objetivo e de grande conciliação da Cássia, nosso grupo não teria se refeito em laços de amizade.

Com Aline e Glaucio aprendi uma forma diferente de ver a natureza, a estrada e a velocidade, como os episódios e a imagens tocam nossas vidas. Mas, sem dúvida, a parte mais importante dessa viagem foi a volta para o Brasil com o companheiro e irmão Glaucio. Todo mundo ficou admirado de não termos discutido um só instante e da nossa pilotagem de enduro, acertada e ponderada a cada movimento.

Glaucio e eu assumimos nossas diferenças de biorritmo e fizemos - com sucesso - um belo esforço de compreensão um do outro, o que foi fundamental para a nossa volta ao Brasil, em paz e harmonia. Tenho certeza que melhorei como ser humano, porque aprendi a tolerar e a entender as perspectivas de cada um ao olhar a mesma montanha, o mesmo lago andino ou os maravilhosos contornos do Perito Moreno. Valeu Gente!